2024, a Colheita.

Meu 2023 foi um ano de importante aprofundamento espiritual, na religiosidade e na experiência com substâncias como a Ayahuasca e o Derrumbes. A conexão entre o indivíduo, a coletividade, a Mãe Terra e o plano espiritual, marcou o último período da minha caminhada. Se o Tárcio do futuro chegasse no início de 2023 para contar o que eu viveria nos meses seguintes, eu não acreditaria. Não digo que sou outra pessoa, mas sem dúvidas passei, ou melhor, estou passando, por importantes transformações que permitem viver com mais qualidade, envolvido e sempre disposto na luta coletiva, mas mais presente (e mais feliz) enquanto sujeito. Este processo é assunto para outros textos, registro por entender que o caminho percorrido tem feito um Tárcio mais preparado para os desafios de 2024, ajudou muito nos ajustes políticos que tenho feito, e são eles o foco das próximas linhas.

Esse ano fiz um movimento de transição para sair de espaços de direção partidária, ampliar minha militância cultural e antiproibicionista, fortalecer o diálogo mais presente com minha categoria (assistentes sociais), viver minha espiritualidade, aproximar pessoas para um projeto coletivo de disputa da Câmara Municipal da nossa capital. Quero viver menos disputas no campo popular, inclusive ficando mais distante de quem se acha o suprassumo da revolução, de quem só pensa na autoconstrução das suas organizações, buscam mais divergência que convergência. Tenho focado em enfrentar inimigos de classe e priorizar o alinhamento do campo popular.

A luta política é muito dura, em alguns momentos você é anulado em sua individualidade em meio a subjetividade de outras pessoas, sensíveis e apegadas a suas posições. Paciência, atenção, escuta e flexibilidade, são características que tenho mais do que muita gente imagina, quem não tem essas características corre o risco de buscar atalhos e ficar sozinho no caminho. É importante ouvir, mesmo as pessoas que “apenas” criticam e/ou dão ideias e não “carregam o piano” (por vezes muito pesado), mas admito, hoje não escuto mais todas as pessoas, quem trata com desrespeito eu passo a não considerar, algumas chamam isso de cancelamento, eu chamo de autocuidado.

Nem todas as pessoas estão dispostas a se anular, a deixar seus pensamentos um pouco de lado e a ceder. É muito comum alguém simplesmente abrir a boca e dizer o que pensa, sem cuidar do outro/a e muitas vezes desfazendo construções coletivas das quais essas mesmas pessoas participaram. Também é comum ouvir alguém “defender” uma pessoa (atacar uma outra na verdade) que não está sendo atacada, culpando uma outra pessoa que apenas expressava uma posição política sobre qual caminho e método seguir. Essa “defensora” parte para o ataque e “esquece” de dizer qual posição está defendendo, já que o foco real era desgastar uma terceira – e não apresentar caminhos.

Quem é dirigente, por vezes, leva culpa até do que não fez. Tem alguns anos que não sou mais presidente do PSOL, três meses que nem da direção do PSOL sou mais, mas tem pessoas que agem como se lá eu estivesse, inclusive desrespeitando quem está “tocando o piano” na direção, como se nossas/os atuais dirigentes não tivessem autonomia e capacidade de seguir o caminho. Sempre que alguém faz contato comigo para tratar do PSOL eu digo: “ligue para fulano/a, ligue para beltrano/a, são as pessoas responsáveis pela direção partidária, se acharem que eu posso ajudar, essas pessoas falarão comigo”. Em outras palavras, respeitem os/as coleguinhas.

Quando não atentamos para essas subjetividades, achamos que devemos está ocupando espaço a qualquer custo, muitas vezes impedindo que outras lideranças surjam, que certas disputas sejam deixadas de lado, que novos caminhos sejam traçados, que cada militante possa respirar novos ares e alçar novos voos. Infelizmente a disputa existe até onde ela não existe, tem gente que é muito criativa, é desgastante e faz com que algumas pessoas fiquem no caminho, é responsabilidade de alguns poucos (infelizmente) buscar que ela (a disputa) disperse, ajudando a fazer o caminho fluir de uma forma que a disputa seja contra os/as inimigos/as de classe, não entre os/as nossos/as. Sou muito feliz por, quando fui presidente do PSOL/PB e do CRESS/PB, ter terminado as gestões com quase a totalidade das pessoas que as integravam, agregando e ampliando, respeitando e valorizando cada contribuição, sem medir com uma régua.

Existem disputas internas necessárias? Óbvio que sim! Por exemplo, não quero (e não vou) andar nas eleições com quem esteja em 2024 defendendo unidade com o atual prefeito de João Pessoa, que representa o que tem de mais atrasado na política. Da mesma forma, penso que o PSOL não deve receber em seus quadros um vereador que esteve defendendo Agnaldo Ribeiro e Pedro Cunha Lima no último processo eleitoral, muito menos ter candidatos/as que andaram tão recente por esse caminho, como os nomes que surgem em Caaporã-PB, defenderei essa posição em todas as plenárias e convenções do partido. A questão é, a obrigação de fazer essa defesa, assim como seguir/implementar as deliberações vitoriosas que compõe a tese mais votada no último congresso do PSOL (apesar de ser de todos, todas e todes) é mais de quem compõe a Direção Estadual e as Direções Municipais do PSOL, ser dirigente não é “ser o legal”, “esconder reais diferenças” ou “sair bonito/a na foto”, mas ter posição coletiva e tomar partido. Desejo força e acredito em quem está com essa tarefa, em 2024 as minhas energias precisam ter outro foco!

No campo popular, dentro e fora do PSOL, optei por ser mais discreto em alguns debates, em especial os táticos, aqueles que não impactam em nossos princípios e planos estratégicos. Observar e ouvir mais é o caminho que optei para algumas posições, permitindo que outras pessoas passem a se colocar mais, se expor mais. Aqueles e aquelas que ficam esperando a deixa para bater ou apoiar a posição apresentada, fugindo de ser o chato ou o responsável da história, ou quem busca ser o mais legal ou revolucionário/a defensor dos princípios, também precisam botar a cara no sol.

Hoje estou na base partidária, base do meu sindicato, base do meu conselho de classe, seguirei ajudando e contribuindo, mas não na direção, meu foco, junto/a com outras pessoas dentro e fora do partido, é pré-campanha de vereador, as ações de base e a contribuição nos espaços coletivos.

A decisão de ser candidato a governador em 2014 foi coletiva, pensamos em disputas futuras e reafirmamos isso em 2018, sem pressa e vendo a queda de quem não soube esperar e abandonou o barco. Alguns nomes recuaram em nome de questões pessoais, algo extremamente legítimo, mas perdendo o bonde da história. Eu segui, até quando eu não queria, em nome de uma caminhada coletiva; segui sem atalhos, e não faltaram cantadas; segui o caminho que acredito, não o mais fácil; segui acreditando na construção de prioridades coletivas; recuei de alguns espaços para fortalecer novos nomes, uns para disputas coletivas presentes e outros para momentos futuros.

Que 2024 seja de vitória dessa construção coletiva plantada 10 anos atrás. Que ninguém caia no “conto do vigário” e busque atalhos destrutivos (individual e coletivamente). Que cada um/a saiba a hora de plantar e de colher.

É hora de novos posicionamentos, focar no que é prioridade e conquistar!

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