Um Diálogo Com a Esquerda Brasileira: Os Levantes de Junho, a Reforma Política/Plebiscito e as Eleições 2014.

nApresentação

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nNão sou e não serei um nome histórico da esquerda brasileira, a realidadene os caminhos escolhidos pelo indivíduo Tárcio Teixeira não permitem talnalcance; mas tenho minhas responsabilidades como Militante da EsquerdanSocialista na Paraíba, e até nacionalmente (quando integrante da ComissãonNacional de Ética do PSOL), e buscarei dialogar com os recém ingressos nanmilitância, com aqueles que possuem uma caminhada mais curta como a minha e comnos quadros/as da Esquerda Brasileira. Muita pretensão? pode ser!

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nComecei a escrever esse texto há mais de três meses, foram mais linhasnapagadas que escritas. Tive o cuidado de não dizer que organização X ou Y énresponsável por esse ou aquele ato; por outro lado não deixarei de tratar temasnpolêmicos que envolvem a esquerda brasileira na atualidade.

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nNão farei esse texto em formato das inúmeras “notas públicas” que em nadanajudam na construção da luta por direitos ou na unidade da classe trabalhara.nTentarei não fazer um debate de que meu partido, o PSOL, é o caminho a verdadene a luz. Irei expor nas próximas linhas algumas reflexões sobre os Levantes de Junho, as táticas para Reforma Política e sobre as Eleições 2014.

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nSabemos que análise política e tática nem sempre seguem o critério danrealidade, isso pelo fato de alguns teimarem em distorcer os ensinamentos dongrande Karl Marx. Por vezes dirigentes partidários/as “forçam a realidade” parancaber nos seus desejos; trabalham com emoções e um passado distante, paranenvolver e direcionar seus/suas companheiros/as de organização a um caminho quennão casa com a realidade. Obviamente que esses equívocos são executados pornmotivos diferentes: alguns por equívocos na análise, outros por crença e,nalguns/mas, por puro oportunismo e mentira deslavada.

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nLevantes de Junho

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nTenho escutado de tudo sobre as análises dos Levantes de Junho: asnanimadoras que apontam a “Revolução Brasileira” na esquina; as que tratam da “Ameaçanda Direita” e retira militantes das ruas ao “carregar nas tintas”; e as maisnhonestas, ou que mais se aproximam da realidade. Eu fico com as análises donlivro “Cidades Rebeldes”, publicado no calor das emoções, ainda em julho den2013.

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nObviamente que existiam aspectos da direita nos levantes de junho, assimncomo havia uma grande tensão típicas das crises pré-revolucionárias; masnqualquer extremo, ou mesmo muitas certezas, é demais para debater o momentonatual.

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nEntre as poucas certezas existentes, quero elencar algumas: 1. nenhumnpartido ou corrente da esquerda brasileira é responsável (no sentido de fazernacontecer) pelos Levantes de Junho; 2. quem priorizou a construção partidária,nou tentou potencializar as diferenças em detrimento da unidade, acabou sendonduramente criticado e/ou saindo do processo de organização para não contaminarnsua “base” (denominação criticada pelos Levantes), não contribuir com oncrescimento de outras organizações e/ou preservar Governos que iam no sentidoncontrário dos Levantes de Junho; 3. centenas de pessoas, sem filiaçãonpartidária ou participação em movimentos, entraram no processo e cumpriramnpapal de dirigentes, rotulá-los de despreparados/as ou caminhar no sentidoncontrário da horizontalidade de Junho é, no mínimo, fechar os olhos paranrealidade, muitos/as deles/as estavam mais certos que nossas “históricas”norganizações.

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nOs Levantes de Junho foram superiores as organizações da EsquerdanBrasileira. Felizmente a força popular é maior que nós. Devemos ficar felizesnao confirmar que existem mais lutadores/as sociais fora, do que dentro dennossas organizações, do contrário estaríamos fadados a derrota. É um grandenerro (ou oportunismo) dividir os campos entre Táticos e Esquerdistas ounGovernistas e Socialistas. Nossos companheiros/as estão no PSOL, na ConsultanPopular, no PSTU, na hoje reduzida esquerda do PT, no PCR, no Coletivo Forando Eixo e em inúmeras outras organizações e militância independente.

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nObviamente temos diferenças, do contrário estaríamos na mesmanorganização; essas diferenças podem ser potencializadas ou reduzidas; qualncaminho você quer seguir? Essas diferenças, em meio aos Levantes de Junho, sendesdobraram entre diferentes caminhos que hoje impactam a relação entrencompanheiros/as; estou falando dos/as que priorizam o Plebiscito pelanConstituinte acima de tudo, inclusive de muitas lutas do povo brasileiro; os/asnque rotulam de (no mínimo) governistas os/as que estão na organização donPlebiscito; os/as que querem separar esse debate de todo processo eleitoral; enos/as que entendem esse debate como parte do mesmo debate político, posição quencompreendo ser a mais próxima da realidade. Quem tenta fugir do Real e escondena militância em uma ficção romântica terá que, em um futuro próximo, assumirnsua responsabilidade com a história; vontade não é – necessariamente –nrealidade.

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nReforma Política

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nA Reforma Política tem ou não relação com os Levantes de Junho? Essa énoutra (das poucas) certeza que tenho, a Reforma Política é uma reivindicaçãondas ruas sim; contudo, precisamos discutir a intensidade, a ordem de prioridadene a tática que melhor mobilizará a classe trabalhadora. Ainda de caráternintrodutório para esse tópico, não vou dizer que todos/as que estão priorizandona pauta da reforma política seja defensor/a do Governo PT/PMDB, apesar da pautanter sido apresentada por Dilma na expectativa de barrar os Levantes de Junho.

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nAntes mesmo de Junho, uma importante parcela da Esquerda Brasileira jánlevantava a bandeira da Reforma Política; assim como dos 10{893e00c25158f9ee8e50627a81cad15ff9fd494d33694c956dcdfc9590e56264} do PIB para EducaçãonPública, Passe Livre, Saúde e Segurança de qualidade, essas últimas com bemnmais intensidade na vida da população.

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nÉ bem verdade que as Políticas Públicas não são, nem de perto, o caminhonou a chegada para Emancipação Humana; também é verdade que a Reforma Política,nrealizada em meio ao Capitalismo, também não significa Emancipação Humana;ncontudo, quem inicialmente levou milhares de pessoas para as ruas foi uma pautanbem objetiva, a redução das passagens, seguida de outras pautas bem objetivasnda vida cotidiana; não foi a Reforma Política, apesar da dura critica dos/asnmanifestantes aos partidos políticos, parlamentares e governantes.

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nO que seguiu mobilizando a população após Junho? A luta por direitos ou onPlebiscito pela Constituinte? Não faço essa pergunta aos que constroem onPlebiscito para blindar o Governo ou dizer que Dilma estava certa, faço aos/asnque constroem o Plebiscito tendo como foco a Reforma Política e a ampliação dandemocracia em nosso país. O Brasil segue mobilizado por pautas objetivas, é essanpauta das ruas que pode potencializar o Plebiscito e fortalecer a realização denuma Reforma Política.

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nOs/as companheiros fizeram o teste nas ruas sobre a pergunta donPlebiscito? E com seus amigos/as mais próximos, fizeram? A maior parte das pessoasnnão tem a mínima ideia do que significa: “você é a favor de uma ConstituintenExclusiva e Soberana do Sistema Político?”. A luta cotidiana e as críticas dasnruas ao Sistema no qual vivemos mobiliza bem mais que as atividades de formaçãonsobre o Plebiscito pela Constituinte. Lembram da palavra de ordem “Paz, Pão enTerra”?

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nNão estou dizendo com isso que o Plebiscito não é válido, estou inclusivenestudando a melhor forma de contribuir; só estou afirmando que é um grande erronpriorizar essa pauta sem levá-la para as ruas juntamente com as bandeiras quenlá estão. O debate do Plebiscito pela Constituinte precisa ser pautado nos atosnque estão questionando aos gastos de Dinheiro Público com a Copa, nos atos dosnProfessores, dos Garis, dos Rodoviários, dos Metroviários, do Ocupe Estelita,nOcupe a Beira-Rio, nas ações do Fórum dos Servidores Públicos e nas demaisnações de rua que tomam conta do nosso país.

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nMesmo com o foco na Reforma Política, é preciso refletir sobre o que tevenmais visibilidade e diálogo social com a população nos últimos meses, se asnações do Plebiscito pela Constituinte ou as ações da OAB e do Senador Randolfenjunto ao STF contra o Financiamento Privado de Campanha? Não estou contra onPlebiscito, mas precisamos refletir como envolver as diferentes organizações danEsquerda Brasileira nesse processo, foram assim os últimos plebiscitosnpopulares realizados no Brasil. Quem for pautar uma bandeira tão importantenpriorizando o processo de construção de uma ou outra organização política, teránum grande prejuízo no futuro, sem contar o preço da fatura cobrado pela luta denclasses.

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nNão poderia deixar de lembrar as polêmicas em torno das consequênciasndesse processo, a pergunta do Plebiscito, isoladamente, é comum a muitos,npodendo ser inclusive da direita brasileira. A palavra de ordem “mudar oncongresso” não é necessariamente libertária, pode ter um cunho conservador aonapontar que a solução do povo é o Congresso Nacional; mais ainda quando não sentem claro quem serão os constitucionalistas ou quando, em meio ao processoneleitoral, alguns que organizam o Plebiscito, começam a fazer campanha paranDeputados Federais que votaram na Lei Geral da Copa, contra os 10{893e00c25158f9ee8e50627a81cad15ff9fd494d33694c956dcdfc9590e56264} do PIB paranEducação Pública ou não levaram as últimas consequências o debate da ReformanPolítica no Congresso Nacional.

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nEleições, esse é outro foco do debate sobre o Plebiscito pelanConstituinte. O que significará fazer uma atividade desse porte em meio asneleições para Presidente, Governador/a, Congresso Nacional e AssembleiasnLegislativas? Espero que seja, também, uma forma de “mudar o Congresso” enfortalecer a Esquerda Brasileira. Os/as organizadores/as do Plebiscito nãonpodem cometer o mesmo equívoco do editorial do Brasil de Fato ao: comparar onGoverno Dilma/Temer (PT/PMDB) aos Governos Populares da Venezuela, Bolívia enEquador; desqualificar as candidaturas da Esquerda Brasileira; e ao apresentarnLenin para solucionar as contradições de algumas organizações sem, ao menos,nanalisar o contexto de cada época.

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nEleições 2014

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nNão acredito que os Governos do PSDB seguiriam a mesma postura do PT emntemas como: o Marco Civil da Internet, da Lei Menino Bernardo, danRegulamentação do Trabalho Doméstico e mesmo a postura como debate (só debate)na proposta de regulamentação da mídia. Definitivamente, o Governo do PT não énigual ao Governo do PSDB.

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nApesar de não possuir sinal de igual entre PT e PSDB, esses dois partidosnainda possuem forte unidade; votam conjuntamente contra os 10{893e00c25158f9ee8e50627a81cad15ff9fd494d33694c956dcdfc9590e56264} do PIB paranEducação Pública, Lei Geral da Copa e “Lei Antidrogas” (reforça o proibicionismone autoriza internação compulsória). Não podemos esquecer que o GovernonDilma/Temer (PT/PMDB) mantém sérios traços neoliberais, a exemplo da políticande privatização (Aeroportos, portos, petróleo, hospitais universitários),ndesmonte da Previdência Social e as novas formas de flexibilização do trabalho.

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nCom toda essa política implementada pelo Governo Dilma/Temer, entendo sernum equívoco muito grande igualar esse Governo aos Governos Populares danVenezuela, Bolívia e Equador, como fez o Brasil de Fato no texto “Eleiçõesnpresidenciais e o papel do esquerdismo”, publicado em 03/06/2014. Estes paísesnseguem um caminho bem diferente dos exemplos apresentados no parágrafonanterior.

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nO mesmo texto do Brasil e Fato, dedica sua energia ao que chamam de esquerdismo;nno momento que o texto relaciona o esquerdismo e o processo eleitoral, acabanpor impor ao leitor o entendimento que as candidaturas da Esquerda Brasileirannão são táticas na defesa de um projeto de América Latina; felizmente osnLevantes de Junho foram pela esquerda e as candidaturas do PSOL, PSTU e PCBnpoderão fazer um importante debate sobre América Latina e ocupar o espaçondeixado pela maioria do PT.

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nAo falar do Governo Dilma/Temer, tratar da importância do “desafio denreafirmar uma estratégia revolucionária e, ao mesmo tempo, combinar firmezanideológica com flexibilidade na tática” (Brasil de Fato), é querer impor uma vontade diante da realidade que aponta para outro caminho. Quem ignora anpossibilidade da derrota de Dilma/Temer nas eleições de 2014, não é onesquerdismo ou os partidos da esquerda socialista que apresentarão candidaturasnde luta nas eleições de 2014, mas o Governo PT/PMDB que, apesar das diferençasndo seu antecessor, optou por outro caminho que não o percorrido por outrosngovernos na América Latina.

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nNão diria que os/as companheiros/as que fazem ataques as candidaturas danesquerda sejam intelectualmente fracos, mas que distorcem sua intelectualidadenpara caber em seus desejos (ou suas táticas) e não aparentar oportunismo diantendos/as seus companheiros/as de organização ou pessoas que os tenham comonreferência. Os militantes da esquerda socialista não precisam se engalfinhar nonperíodo pré-eleitoral ou eleitoral, basta que defendam de fato o que acreditamne que deixem claro até onde vai sua “flexibilidade tática”.

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nEstive nos Levantes de Junho e vi a vontade de mudança da população.nMudar não é andar para trás e também não é permanecer o mais do mesmo. Estou nanpré-campanha do companheiro Randolfe Rodrigues e minha flexibilidade tática nãoncabe José Alencar ou Michel Temer na vice.

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n                       nTárcio Teixeira

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n                       nPré-candidato ao Governo da Paraíba pelo PSOL

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