A rede molhada, resultado do frio das 05h, mas também do medo de – aos pouco mais de cinco anos – levantar sozinho pelo corredor da casa grande, já tomado pelo cheirinho do café. Outros odores marcaram esse dia: o cheiro dos grãos armazenados no quarto da frente; o cheiro do couro das selas, do gibão e dos arreios que teimava em invadir a casa ainda de portas fechadas; e após a coragem de girar a tramela pude sentir o perfume da caatinga.
Aos cinco anos uma fotografia forma-se acompanhada dos perfumes do Sertão! A névoa densa e fria cobrir o rio que banhava boa parte do “Serafim Dias”. Ouvia-se apenas a força das suas águas que desciam após vencer suas barreiras, uma enorme barragem para minha pouca idade. Como mágica aquele vento cortante levava em seus braços as nuvens que cobriam a nudez do grande rio.
Ainda com as calças molhadas, de odores que não preciso descrever, eu apreciava aquela paisagem que em poucos instantes tomavam formas distintas. Como grandes conhecedores da arte… Eu simplesmente contemplava!
Não demorou muito até que eu fosse interrompido – por sinal sem em momento algum ser constrangido pela rede ou pelas calças molhadas. Uma voz tranqüila de avô encantava com um simples convite, de pronto segui suas notas vocais até o curral onde novas obras formavam-se por outros pincéis.
Como por encanto os animais obedeciam. Touros bravos deixavam acariciar. Vacas de grandes tetas relaxavam durante a ordenha. Ainda em meio aos odores do curral, um bigode de leite transforma-se em um sorriso seguido de gargalhadas.
Meu Sertão!
Ps.: essa casa, assim como o curral e o rio, foi coberta pelas águas do, hoje, açude do Serafim Dias. Escaparam os fortes sertanejos!