O Mestre da Fumaça, Maconha no Cine Banguê

Sobre o filme “O Mestre da Fumaça”. Primeiro dizer que não sou crítico de cinema, não foi fácil escrever sem deixar spoiler nas linhas que seguem, mas acho que consegui. Sou apenas um ativista antiproibicionista que defende a natureza e a liberdade dos nossos corpos.

Algumas pessoas dirão que é só um filme bobo, as conservadoras vão falar a mesma baboseira sobre apologia, outras que é sobre maconha. Eu vi o filme no primeiro dia de exibição no Cine Banguê (02/07/2023), na capital da Paraíba, entendo que é um filme também sobre maconha, mas não “só”, é ainda sobre descriminalizar a natureza, a hipocrisia do conservadorismo, o racismo imperialista, a famigerada “guerra às drogas” e ainda sobre liberdade, família, honra, tradição e geopolítica.

Exagerado? Vejamos… O vilão é um norte-americano, branco, de olhos claros, que chama um latino de macaco e atende as ordens de uma mulher chinesa, é ou não conjunturalmente atual na disputa geopolítica? Sem contar que a maconha, planta milenar, foi usada pelo imperialismo norte-americano como o estopim para a dita “guerra às drogas”, que nada mais foi que um ataque racista direto contra pessoas negras e mexicanas. Sobre esse importante tema, recomendo o documentário “Baseado em Fatos Raciais”.

Sobre família e honra sim, do começo ao fim do filme uma chinesa trata de tradição e honra esse caminho, enquanto a representação do imperialismo não gosta nada da tradição – tema que tem relação direta com a família dos protagonistas. Digo mais, trata de um conceito expandido de família, a que é escolhida – ou construída socialmente. Assim como eu e você, muitas pessoas tem amigos e amigas que são das nossas famílias.

A forma como a polícia aborda uma dupla formada por um negro e um branco, ou em outro momento quando os mesmo policiais, desta vez de folga, aparelham a segurança do Estado e vivem uma relação com outros ilícitos, diz muito sobre o conservadorismo, o racismo, a “ordem” pública e a hipocrisia do sistema que vivemos.

O filme vai além, trás a relação com os cogumelos, e faz isso mais perto da realidade, não poderíamos cobrar mais para o roteiro pretendido, daí o “mais perto”, mas estou contemplado, é mais próximo do real a forma quieta e as reflexões interiores trazidas no filme que as pessoas enlouquecidas ou pulando dos prédios, como relata mentirosamente o proibicionismo da “guerra às drogas”.

A parte óbvia é que o filme fala sobre maconha, mas não é tão simples assim, são muitos os aspectos, a liberdade de cada um com seu corpo, a planta, a história, o fumar, o comer, o transar, o uso medicinal.

Usuário/a não é traficante, Planet Hemp fez essa afirmação faz tempo. A maconha não mata, o cogumelo não mata, quem mata é o proibicionismo, o tráfico, a desinformação e o preconceito. É urgente descriminalizar a natureza, descriminalizar pessoas usuárias. Essas medidas são centrais na defesa da vida.

O filme “O Mestre da Fumaça” segue em cartaz no Cine Banguê durante julho, em vários dias e horários. Estamos esperando qual será a primeira ou o primeiro parlamentar da extrema direita a espernear, dizer que é um absurdo e que vai entrar na justiça, mas não corra para o cinema por isso, eles e elas berram, mas já foram derrotados nisso faz tempo, corram “só” para não perder esse filme massa.

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