Eleições, Regionalidade e Preconceito: Senti na pele!

O ódio pregado no processo eleitoral foi além do político, os/as candidatos/as que optaram por abrir um campo de guerra são responsáveis pelo clima de preconceito no país chegar a tal estágio; claro que a xenofobia não é coisa nova no Brasil, assim como não é o racismo, o machismo e a homofobia. Contudo, não são eles, os/as candidatos/as, os/as maiores responsáveis pela suposta divisão entre Norte e Sul; a grande mídia propagandeou isso com muita força, uma grande mentira, já que Dilma não seria eleita sem os votos do Sul e Aécio não teria a quantidade de votos que teve sem os votos do Norte.
O que a grande mídia e os partidos que representam a velha política em nosso país tentaram fazer foi, na verdade, esconder que o debate é de classe social, sim trabalhadores/as e burguesia disputando no campo ideológico; tentaram não expor de forma clara a relação de classe no processo eleitoral, ao contrário do que fez o nosso PSOL; os/as representantes direto da burguesia, ou seus aliados pontuais, sabiam que o debate de classe poderia ampliar a unidade da classe trabalhadora em um novo projeto de sociedade que não se limitaria ao processo eleitoral, então, optaram por regionalizar o debate pelo mapeamento das urnas; agora correm para corrigir isso, felizmente.
Nasci e nIguatú, no sertão do Ceará, pouco tempo depois de minha mãe ficar viúva (eu ainda com três anos) fomos morar em Recife. Não escolhi onde nascer, nem o de crescer. Apesar de amar esses dois estados, Pernambuco e Ceará, o motivo dessa viagem não foi diferente dos motivos que levaram os 13 irmãos de minha mãe a “pegar a estrada”; também não são motivos diferentes dos que levaram outros/as milhões de nordestinos a viajar de norte a sul em busca de melhores condições de vida, seja do alimento, seja da formação, seja do clima.
Após adulto eu pude escolher, escolhi viver o restante dos meus dias em nossa Paraíba, mais precisamente em João Pessoa, onde já tenho os mesmos sete anos que tenho de Ceará, minha terra natal; aqui conheço mais cidades do que conheci em Pernambuco e no Ceará, ao todo conheço 75 cidades da Paraíba, todas as regiões do nosso estado. Estou dizendo isso não apenas para declarar meu amor ou justificar minha escolha, mas para dizer que também tentam nos dividir no interior do Nordeste, já sofri preconceito por não ter nascido na Paraíba.
Nas primeiras eleições para o Conselho Regional de Serviço Social da Paraíba (CRESS/PB) que concorremos (2011), em uma disputa acirrada, tendo na outra chapa diversos representantes do Governo (estadual e municipal), fui “acusado”, se de ser pernambucano, imaginem se soubessem das minhas raízes sertanejas, sem dúvida o preconceito seria maior. Por mais que falemos do preconceito, só quando o entimos de forma direta que, de fato, passamos a entender o quanto ele é dolorido. Neste fato específico, elaborei um texto muito duro e essa “acusação” não voltou a ocorrer de forma tão pública, nem nas eleições de 2011, nem nas eleições de 2014, quando fomos reeleitos/as para gestão 2014/2017 do CRESS/PB.
Nas eleições para Governador da Paraíba, quando eu estava como candidato, sofri o mesmo tipo de preconceito, poucas vezes de forma direta, é verdade, mas sofri; foi em ligação para rádio, por mensagem no meu facebook e nos comentários maldosos que chegavam aos nossos ouvidos. Não dei corda para isso, mostrei nosso conteúdo, o quando estudamos e conhecemos a Paraíba e os problemas que vivemos enquanto povo; que são os últimos gestores que estão destruindo e entregando nossa Paraíba, não eu, um nordestino que escolheu viver e contribuir com esse povo que, enquanto classe, percebeu de que lado estou.
Tenho muito orgulho de ser Nordestino, na verdade, tenho orgulho de ser brasileiro, de ser latino-americano; mas meu maior orgulho é saber que sou de um mundo onde todos/as somos seres humanos em relação com a natureza; o que nos divide é a questão de classe, a politicagem e as guerras em nome da dominação do poder econômico, não podemos lutar pela melhora de um povo em detrimento de outro, como se fossemos daqui ou dali. Somos todos/as cidadãos do mundo.

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