Verdade, demorei para ouvir o Vai Valente Podcast, de Isla Cezzani, psicóloga e foliã que estou tendo a alegria de conhecer a cada dia, graças ao Carnaval, ele entrega muitos presentes para além de fevereiro. A voz doce e tranquila que conduz essa viagem não diz que as barreiras que encontramos na vida são bobas e de fácil superação, mas que precisam de nossa atenção e cuidado. Penso que não foi por acaso que a Valente começou falando de Medo, mas também de Desejo e Coragem para sermos protagonistas das nossas vidas.
O segundo episódio parecia ter lido meus rabiscos do “para começar”, já trouxe em seu título a Coragem, “a coragem de bancar as próprias inquietações”, de bancar a própria vida! Quantos de nós não sufocamos nosso ser criança para caber nas “jaulas da vida” que aprisionam nossas inquietações? Por vezes parece ser fácil reproduzir, só seguir os rótulos, sem questionar… é, pode até ser fácil para alguns/mas, mas não é, nem de perto, a delícia de retomar algumas verdades da infância, ter o medo como Cuidado, romper a jaula (ou as jaulas) e bancar nossos sonhos.
Por mais que muitas vezes sejamos divididos como fatias de bolo para caber em diferentes depósitos (escola, religião, casamento…), somos um bolo inteiro. Por mais que a vida teime em passar o dedinho e arrancar um pouquinho da cobertura, seguimos sendo um todo! Esse todo vive uma mistura de sentimentos que por vezes Culpa, confunde, impede viver. Várias lágrimas estiveram comigo no terceiro episódio, não as lágrimas da obrigação social de mergulhar na dor para validar nosso amor, mas lágrimas de saudade e alegria de quando a história da Valente ficou próxima da minha. Perdi meu avô em janeiro de 2023, ele faria aniversário no mês seguinte, durante o Carnaval, fiquei apreensivo sobre como seria essa festa que amo, no dia eu senti que foi “o jeito que poderia ter sido”.
Esse ano de 2024 é a primeira vez, em mais de duas décadas, que não tenho nada estruturalmente planejado para os anos seguintes, meus planos param em outubro de 2024, e está tudo bem! No quesito fantasia, por mais que a vida fizesse eu ter meus pés no chão (desde criança), eu sempre criei um mundo de fantasia, de planos, objetivos, metas. Confesso que muitas fantasias são típicos do Fantástico Mundo do Bob, mas outras – que estavam na cabeça do Tárcio criança, não eram tão fantasia assim, não que sua materialidade tenha sido perfeita, impecável, foi do jeito que poderia ser, e que bom que foi. Tenho fantasiado sobre o pós outubro de 2024, quando estarei com 47 anos, não como planos ou metas, mas como possibilidades, aberto aos resultados da vida, inteiro, valente!
As comparações nos perseguem, os rótulos estão aí para isso, mas a Valente lembra que “há sempre caminho pra gente voltar pra perto da gente”. Se é verdade que vestir rótulos nos protege das ameaças do cotidiano, também é verdade que limita quem queremos ser. Subir em um palco para ser quem não é, para atender padrões repetitivos, impostos pela ordem, é deixar de lado o palco mais lindo que é viver. Eu já venho reduzindo minhas “evitações” e fazendo o caminho da volta, quem leu o Fantasia(s), meu livro de poesias e contos lançado em 2019, tem acompanhado um pouco disso.
Não cheguei até aqui, no último episódio do Vai Valente Podcast, interpretando ou buscando certo ou errado, mas sentindo essa voz suave de temas duros. Nesse meu sentir, não tem “voltei pra mim” sem as “desimportâncias” que encerram a primeira temporada e ao mesmo tempo abrem espaço para viver nosso próprio ouro, o que é pequeno para alguns e gigante para o nós. Viver meu próprio ouro, buscar meu próprio pódio, não diz do isolacionismo ou do egoísmo, diz do romper rótulos, do sentir, do fortalecer e alegrar o ser, do viver e transformar um ser que é individual e é coletivo.
Ouvir as histórias de Isla, a Valente, é lembrar de nossas próprias histórias, mas antes de tudo, é saber da singularidade de cada uma delas. Verdade que nossas vidas se interseccionam, as vezes no Carnaval, como a minha e a da Valente, outras em um contexto desconhecido, mas sempre relacionadas pelas jaulas da vida, sejam as que seguem erguidas, sejam as que derrubamos no caminhar.
A Valente já foi, mas também segue indo; eu já fui, mas também sigo indo; e você, já foi, segue indo ou segue em busca de pódios distantes do seu ouro?
Gratidão pela partilha, Valente!