Estivemos, eu e minha companheira, seis dias distante da nossa rotina. Próximos das belezas naturais mais maravilhosas do planeta: entre planícies e montanhas, golfinhos e tubarões, mergulhos e trilhas naturais e históricas; peixes, os mais deliciosos; cervejas, as mais geladas; leituras, só a dos cardápios.
Porém, o paraíso da Ilha de Fernando de Noronha, é também parte da história da humanidade, do desenvolvimento das forças produtivas, da desigualdade social, da acumulação capitalista. A televisão nos unia ao continente, nos bombardeando com as notícias da ocupação do Complexo do Alemão; o custo de vida e falta de saúde de qualidade, principalmente para população local, nos ligava as desigualdades da nossa linda João Pessoa e de todo mundo capitalista.
Após um lindo mergulho na Praia do Sancho, com tartarugas, lagostas e tubarões, descobrimos que o hospital da Ilha não faz parto, as mulheres, sem diárias ou hospedagem, precisam ir para Recife ter seus filhos, assim sendo negado diversos direitos concedidos aos nativos (concessão de moradia e “visto permanente” aos pais e seus filhos), além do direito a saúde claro.
Como não podíamos passar seis dias comendo em restaurante ou lanchonete, devem imaginar o absurdo dos preços, resolvemos fazer uma “minifeira” no mercadinho, o mesmo que os moradores frequentam. Para ficar em exemplos básicos, uma garrafa de cinco litros de água custa R$ 8,00 e um ovo que no continente compramos uma bandeja com trinta por menos de R$ 5,00, na Ilha a unidade custa R$ 0,50. Nesse dia descobrimos porque comem tanto peixe, e olhem que nem falei o preço da carne. Mesmo assim, tivemos sorte em descobrimos alguns locais menos absurdos.
Imaginem depois de dez horas contemplando paisagens maravilhosas, ligar a televisão – não sei para que fizemos isso. Um choque de realidade, uma ocupação midiática e mentirosa no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Obviamente queremos paz no Rio e no mundo, mas não uma paz negociada com o tráfico e com patrocinadores das olimpíadas; não uma paz de repressão aos moradores; não uma paz que transfere o tráfico para outros estados do Brasil, como em nossa Paraíba já repleta de extermínio de jovens, com presença de “traficantes ilustres” (como os filhos de Fernandinho Beira Mar) e falando em implementar uma unidade pacificadora com o apoio da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Definitivamente, não é mera coincidência!
Se forçarmos um pouco, e nos determos na “matrix”, certamente ao pisar na Ilha nos sentiremos no mundo da fantasia, no paraíso, ou qualquer outro nome que queiram. Quanto ao valor pago: amarrando-se por uns meses, antecipando e ficando atento às promoções das empresas aéreas, levando umas coisinhas na bolsa e descobrindo “os canais” logo no primeiro dia… Provavelmente seja mais possível que impossível chegar na Ilha da Fantasia.
Aproveitamos ainda para deixar um abraço especial às pessoas maravilhosas que conhecemos na Ilha, tanto moradores e profissionais que nos receberam muito bem, como visitantes que tivemos contato. Só engrandeceram ainda mais nossos dias.
Um novo porém… Não vivam eternamente na “matrix”, lembre que enquanto existir propriedade privada não existirá ilha da fantasia.