Conhecem a “Revolução dos Bichos”? O que pensa sobre Bola-de-Neve?

Finalmente! Entre um ônibus e outro consegui ler algo que não seja relacionado ao Serviço Social, um texto que não estará na bibliografia da minha dissertação, “A Vez do Bola-de-Neve”, de John Reed, editora Planeta. Alerto que esse John não é o mesmo do fantástico “10 Dias que Abalaram o Mundo”. Gostei do livro, nos faz refletir sobre algumas ilusões do cotidiano, da expectativa que muitos constroem em instituições subservientes a ordem social burguesa, ou mesmo com falsos “líderes que usam liderados” em favor dos seus projetos pessoais.
Não foi nada agradável encontrar nas linhas do referido livro um dos líderes da “Revolução dos Bichos”, clássico de George Orwel, o porco Troskista Bola-de-Neve, retornar para “Granja dos Bichos” como um dos líderes do capital monopolista, negociando sempre em favor dos porcos, transformando as democráticas “reuniões dominicais” em seus “pronunciamentos dominicais”.
Um período, como típico do porco Napoleão – não sei dizer sei qual a farsa e qual a tragédia. Mandamentos distorcidos, onde se lia “todos os bichos são iguais” passou para “todos os bichos nascem iguais: o que vêm a se tornar é problema deles”. Hino distorcido, passando a ser cantado “trabalhe duro, pois todos gostamos de torta”. Mesmo o verde da bandeira da revolucionária foi distorcido, passando a representar o dinheiro.
O “Troteiro Diário”, que nos tempos de luta relatava com informações verdadeiras as batalhas dos bichos contra as crueldades dos humanos, passou a distorcer as informações, enganar os bichos, caluniar os revoltosos e exaltar os falsos líderes. Em nome da ordem até os “direitos animais” passaram a poder ser violados.
O chicote, abolido desde há época do porco Napoleão, retornou como pedido dos animais que sonhavam em ser estrela principal da “Feira dos Bichos”, um empreendimento que fortalecia a economia de mercado e permitia até mesmo comercializar carne animal em nome da prosperidade comercial. Os animais queriam ser adestrados.
Os valores eram impostos ideologicamente ou comprados com os mais diversos cargos. O crédito e os juros substituíam, ou distorciam, a cooperação animal. As granjas de Foxwood e Pinchfiel foram anexadas a “Granja dos Bichos”, diversos animais foram jogados na marginalidade e os bichos da floresta duramente impactados.
A submissão dos bichos, inclusive o silêncio do burro Benjamin, só foi rompida pelos coelhos e porcos-espinhos dispostos a morrer pela “causa do Código dos Castores”, lutadores que acreditavam que morrendo como mártires alcançariam a “Estrela-Guia Açucarada, um oásis de luz no céu noturno, onde os dias eram tão despreocupados quanto os de um filhote, onde as frutas estavam sempre na temporada e onde as abelhas não tinham ferrão”. O terrorismo dos castores levou a queda dos “moinhos gêmeos”, a morte de muitos animais e acabou dando uma carta branca para Bola-de-Neve declarar guerra contra o terror, ergueram um líder em decadência.
Como pode um autor transformar um líder revolucionário dos “contos de fadas” em mais que um pelego da contemporaneidade? Não bastam os falsos líderes da vida real? Nessas horas (seja ficção ou vida real) é melhor lembrar Chico Science: “Você que está ai sentado, levante-se, há um líder dentro de você. Governe-o. Faça-o falar!”. É sempre bom saber que muitos ainda questionam e não se rendem!

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