A vida tem sido muito corrida, esses dias eu quis escrever sobre o faz de conta de aumento dado pelo Governador da Paraíba (Ricardo Coutinho- PSB) e a falta de notícia (e de aumento) para os/as trabalhadores/as da Secretaria de Desenvolvimento Humano da Paraíba; antes de escrever o possível texto, fui parano show de Milton Nascimento na praia do Cabo Branco, fiquei tão emocionado com a oportunidade de ouvir e assistir uma figura tão ilustre que esqueci as mazelas do desGoverno da Paraíba e passei a querer escrever sobre o envelhecer, sobre o viver.
O fato de Milton não possuir a mesma agilidade da juventude não diminuiu minha emoção diante da sua voz; lembrei de imediato de outros dois belos e emocionantes shows, o de Paulo Diniz e o de Ivone Lara, em ambos @s artistas estavam sentados em uma cadeira de rodas diante do público. Imaginam o quanto e o que esse povo já viveu? O show da vida realmente emociona, mas o início da tarde de hoje (21 de janeiro de 2013) também não permitiu que eu escrevesse esse outro texto, ao menos não sobre esse tipo de emoção.
Após trinta e dois dias eu pude “resgatar” um equipamento eletrônico que havia deixado na autorizada, na volta fiz o retorno no início da Epitácio Pessoa e peguei a Maximiano Figueiredo até chegar na João Machado… quando parei no sinal do cruzamento com a Américo Falcão (achava que ainda era a Vasco da Gama) um menino magrinho de, no máximo, uns 11 anos veio limpar o parabrisa do carro; eu, como de costume, disse que não precisava; também como de costume, não adiantou e ele iniciou seu hercúleo trabalho… foram segundos intermináveis para minha consciência militante que teimava em dizer o tamanho da minha insignificância naquele momento.
A pobreza inerente aos meus últimos 4 anos de profissão estava ali, vestindo uma bermuda vermelha (quase preta de sujo); a parte de cima era protegida por coro e osso; seu peito teimava em desenvolver e tornar público que estava ficando rapazinho; seus bracinhos curtos faziam uma força tremenda para levantar o limpador do lado contrário ao que ele (o menino) estava; o sinal abriu e ele ainda multiplicava seus braços para terminar aquela tarefa sem fim… as buzinas começaram e o rostinho do garoto variava entre frustração, agonia e raiva (ou já saberia ele sentir ódio?)… quando conseguiu esticar seus bracinhos e baixar o limpador direito, só depois disso, ele teve um gesto que aparentemente representava seus possíveis 11 anos: sozinho, parou as duas faixas da João Machado, olhou furiosamente para os carros que buzinavam e “deu língua”; a única arma que (hoje) essa criança tinha para se defender da monstruosidade chamada capital.
”Um bicho só, é só um bicho; todos juntos, somos fortes” (Chico Buarque- Os Saltimbancos)